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Escola e a violência nossa de todos os dias

Ontem, dia 05 de abril de 2023, eu estava em Blumenau. Não era a intenção. Saí cedo com meu amigo Anderson Coelho para fazer a cobertura do Ocean Race. Assim que chegamos em Itajaí recebemos a notícia do atentado à escolinha em Blumenau e fomos para lá. Sei que todos estamos estarrecidos com o acontecimento e eu não consigo saber ao certo toda gama de sentimentos isto tudo está e estará reverberando em mim. Mas quero refletir sobre violência e educação. Deixo claro que escrevo para poder organizar minimamente meus pensamentos, pois após 36 anos dedicada à educação estou pensando que é hora de abandonar minha profissão.


Primeiro quero dizer que a estrutura educacional não olha para o ser humano, olha para números e estratégias que não resultam em boas práticas efetivamente. Em outras palavras, números são manipulados, números mentem. E quando orientamos ações com base somente em números, erramos. Quanto ao dia a dia nas escolas: tudo me parece um pátio de guerra. Se eu for pegar o fio da meada pelo lado da estrutura vemos que ainda temos uma disposição autoritária e pouco eficiente de sala de aula. Carteiras enfileiradas que não permitem que estudantes se olhem nos olhos e o professor que assume um falso lugar de poder. Temos tecnologia e novos métodos aplicados em uma sala configurada aos moldes medievais; Se levantar a questão das disciplinas, trilhas e o novo ensino médio (que espero fortemente que seja verdadeiramente revisto) posso dizer que as áreas ainda são cartesianamente separadas, o que me parece o maior erro. Por que a filosofia é das ciências humanas se é a filosofia que fundamenta as demais ciências? Se é a lógica uma das áreas da filosofia que estuda a validade formal das proposições linguísticas e matemáticas? Bem, só aí englobei todas as grandes áreas. Até quando vamos dividir o mundo entre “racionais” e “emocionais”?; Se tomarmos a questão pelo viés das relações humanas, daí entramos em uma seara infinita de problemas. A violência está espalhada por todos os cantos, não apenas em coisas extremas como o assassinato de crianças em creches ou de professoras em salas de aula. A violência está em como os alunos tratam a si próprios na sala de aula e como tratam o professor, está na autoridade dos coordenadores pedagógicos ao falarem com uma sala indisciplinada, está no estado ao tratar seus professores pss sem nenhum respeito ou direito, está nos pais ou responsáveis que não conseguem perceber o grande papel da escola (e todos os que fazem parte dela) na vida de seus filhos e de sua família.


O que aconteceu em Blumenau e o que aconteceu com a professora Elisabete Terneiro tem raiz em uma única coisa, os ataques que a educação têm sofrido nos últimos anos o que resultou em total desrespeito. Um país que não respeita seus professores, que não dá valor à educação está fadado a manifestar o pior do ser humano. Como poderíamos melhorar esta relação?


Nunca imaginei que chegaria a pensar o que penso agora, mas está na hora do Ministério da Educação mapear os violentos. Aplicar uma espécie de testes ou psicotécnicos para identificar e acompanhar casos extremos. E não estou falando somente de alunos, mas de toda a comunidade escolar. É possível sondar e minimamente identificar alguns desses perfis, é necessário. Confesso que além de cansada desta guerra eu estou com medo. Sofremos agressões diárias e temo pela minha vida e pela vida das outras pessoas que sofrem o mesmo. É hora de parar de tratar a escola como algo separado da sociedade. É hora de parar de fazer de conta que temos bons números na educação. É hora de abandonar esta educação fake. É por esta razão que chegamos onde chegamos. Passamos a mão na cabeça daqueles que pouco se esforçam, não corrigimos atos violentos, não dialogamos sobre dores e violências na escola. Vocês se surpreenderiam o quanto de dor estamos em contato o tempo todo, mas também somos pessoas com nossas próprias dores. Poucos estão preparados para a sala de aula nos dias de hoje.

Eu, que tenho pouca expressão nesta vida que ostenta o poder e a futilidade, tenho tido quase nenhum prazer em estar viva. A violência está impregnada como poeira fina em nossos dias e já não consigo mais ter outro olhar para os dias a não ser um olhar entristecido e sem esperança.

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